A vitória de Adrien Brody como Melhor Ator no Oscar® 2025 por sua atuação em The Last Canvas não apenas celebrou seu talento, mas também reacendeu um debate crucial na indústria cinematográfica: o uso crescente de inteligência artificial (IA) em Hollywood. A premiação de Brody, conhecido por seu método intenso de preparação para papéis, contrasta com a tendência de alguns estúdios de explorar tecnologias de IA para criar performances digitais ou até mesmo substituir atores em determinadas cenas.
O discurso de Brody ao receber o prêmio destacou a importância da arte humana e da autenticidade na atuação. “Nenhuma máquina pode replicar a alma, a dor ou a alegria que um ator traz para o seu personagem”, afirmou ele, gerando aplausos e reflexões na plateia. Suas palavras ecoaram um sentimento crescente entre profissionais da indústria, que temem o impacto da IA na criatividade e no emprego de atores, roteiristas e outros artistas.
Enquanto Hollywood avança na adoção de tecnologias como deepfakes e personagens gerados por IA, a vitória de Brody serve como um lembrete do valor insubstituível da interpretação humana. O debate sobre os limites éticos e artísticos da IA no cinema promete continuar aquecido, especialmente em um momento em que a indústria busca equilibrar inovação tecnológica e preservação da essência da arte cinematográfica.
A noite do Oscar, portanto, não foi apenas uma celebração de conquistas, mas também um espaço para reflexão sobre o futuro da sétima arte em uma era cada vez mais digital.
O Dilema Ético da IA no Cinema
O debate sobre o uso de inteligência artificial (IA) na indústria cinematográfica ganhou força em meio a preocupações sobre o impacto dessa tecnologia nos empregos da área. Em 2023, por exemplo, roteiristas e atores iniciaram uma greve que durou quase 150 dias, e um dos principais motivos de protesto foi justamente o avanço da IA e sua capacidade potencial de substituir profissionais.
Os acordos resultantes da greve estabeleceram proteções para atores, exigindo consentimento e compensação financeira sempre que suas imagens ou vozes fossem replicadas por meio de IA. No entanto, artistas visuais e animadores ainda não conquistaram salvaguardas semelhantes, o que amplia a discussão sobre os limites éticos e práticos do uso dessa tecnologia.
Robert Thompson, professor e diretor do Bleier Center for Television and Popular Culture na Universidade de Syracuse, destacou ao Business Insider que o uso de IA no cinema pode impactar a forma como os filmes são avaliados e premiados. “Quem faz as indicações ou vota em qualquer premiação precisa decidir se terá tolerância zero para a inteligência artificial”, afirmou Thompson. “Ou se vão analisar cada desempenho que envolva IA — o que será cada vez mais comum — e julgar caso a caso.”
Thompson também ressaltou a necessidade de maior transparência na indústria em relação ao uso da IA. “Há uma área cada vez mais nebulosa na definição de contribuição artística à medida que a IA se torna mais presente”, explicou. “Divulgar quando e como a IA foi usada não diminui necessariamente o valor de uma obra, mas traz clareza para o público, para os profissionais da indústria e para os comitês de premiação, especialmente no caso da Academia, cujo objetivo é reconhecer a excelência nas artes.”
Essa discussão reflete um dilema central: como equilibrar a inovação tecnológica com a preservação da autenticidade e do trabalho humano no cinema. À medida que a IA se torna mais sofisticada, a indústria e o público precisam enfrentar essas questões de frente, garantindo que a arte cinematográfica continue a valorizar a criatividade e o talento humanos.